Significado das Fantasias dos Casais da Unidos de Bangu 2025

Mais uma publicação sobre os significados das fantasias dos Casais de Mestre Sala e Porta Bandeira da Série Ouro. O grupo é organizado pela Liga Independente do Grupo A do Rio de Janeiro, mais conhecido como LIGARJ e ocorre em dois dias, sexta e sábado de carnaval.

Essa publicação para o grupo foi uma novidade para o carnaval de 2025, pois tivemos acesso ao livro Abre Alas de ambos os dias de desfiles, com isso, foi possível trazer para todos o mesmo conteúdo que realizamos desde o ano passado com o Grupo Especial.

Quando vemos um casal in loco, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí ou em casa com aquelas fantasias esplêndidas, ficamos curiosos para saber qual o significado da fantasia em que os casais de Mestre Sala e Porta Bandeira estão usando. As escolas da Série Ouro, assim como no Grupo Especial tem o costume de ter entre um e três casais e a maioria das escolas do grupo conta com três casais. 

Todos os casais que passaram pelas dezesseis escolas da Série Ouro vieram muito bem vestidos, mostrando o cuidado e o bom grado dos Carnavalescos com os dançarinos que tanto admiramos.

Veja a seguir o enredo, o quadro de casais e o significado das fantasias dos casais da quarta escola á desfilar no Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda noite de desfiles da Série Ouro:

A Unidos de Bangu foi a quarta escola a desfilar no sábado de carnaval, dia primeiro de março de 2025, com o enredo "Maraka’ Anandê - Resistência Ancestral", uma homenagem a Aldeia Maracanã, uma comunidade indígena localizada ao lado do Estádio do Jornalista Mário Filho, popularmente conhecida como Maracanã. Esta Aldeia abriga diversas etnias desde os anos 2000 e é alvo de conflitos desde o ano de 2013, devido as obras de modernização do estádio para a Copa Do Mundo e que houve a remoção de um grupo étnico que vive na aldeia. Há doze anos, grupos reivindicam a retomada total do local, com a valorização cultural e histórica da aldeia. O enredo foi desenvolvido pelos carnavalescos Alexandre Rangel e Raphael Torres. A Escola de Bangu desfilou no dia primeiro de março, sábado de carnaval.


O quadro de casais de Mestre Sala e Porta Bandeira da Unidos de Bangu era formado por dois casais, sendo o primeiro composto por Leonardo Moreira e Barbara Moura e o segundo composto por Leandro Vinicius e Cris Soares.

Primeiro Casal: Leonardo Moreira e Barbara Moura
Fantasia do Primeiro Casal: Resistência Aldeia Marakanã
Criação do Figurino: Alexandre Rangel e Raphael Torres
Confecção: Alex Cunha

Leonardo e Barbara no desfile de 2025 | Foto: Nobres Casais

O Que Representa:
No esplendor do desfile da Unidos de Bangu, o primeiro casal de Mestre Sala e Porta Bandeira transforma sua dança em ato de resistência, carregando consigo a luta e o orgulho dos povos originários. Eles representam a força da bandeira da resistência da Aldeia Marakanã, um símbolo de luta, memória e pertencimento. A Porta Bandeira, majestosa  lcomo uma guerreira ancestral, conduz com leveza e firmeza o pavilhão que tremula na avenida. Cada movimento seu carrega a história da Aldeia Marakanã, um território sagrado que resiste ao apagamento e à opressão. Em sua saia, a bandeira da aldeia, nas cores vermelha, branca, preta e dois maracás, se torna um manifesto vivo, exaltando a identidade indígena e ancestralidade da taba Jabebiracica. Ao seu lado, o Mestre Sala se apresenta como um guardião desse símbolo sagrado. Seus passos ágeis e sua dança vigorosa remetem à bravura dos guerreiros indígenas que, geração após geração, defenderam sua terra, sua cultura e sua ancestralidade. Com elegância e destreza, ele protege a bandeira da resistência, garantindo que sua história jamais se perca no tempo. Juntos, o casal dança não apenas para encantar, mas para contar uma história de luta e esperança. Suas evoluções desempenham na avenida um grito de resistência, uma celebração da cultura indígena e um pedido de reconhecimento. A bandeira da Aldeia Marakanã simboliza resistência que não se curva, que a tradição segue viva e que a luta por direitos e território ecoa através das gerações. Na Sapucaí, o primeiro casal da Unidos de Bangu não apenas dança, mas reafirma que a Aldeia Marakanã continua de pé, altiva e guerreira, honrando o passado e inspirando o futuro.

Segundo Casal: Leandro Vinícius e Cris Soares
Fantasia do Segundo Casal: A Ordem é Exterminar
Criação do Figurino: Alexandre Rangel e Raphael Torres
Confecção: Alex Cunha

Leandro e Cris no desfile de 2025 | Foto: Nobres Casais

O Que Representa:
No desfile impactante da Unidos de Bangu, o segundo Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira assume o papel de denúncia e memória, trazendo para a avenida uma verdade dolorosa, muitas vezes silenciada: o extermínio sistemático dos povos indígenas no Brasil, desde o início da República até os dias atuais. A Porta Bandeira, em sua dança marcada pela dor e resistência, veste uma saia que carrega um símbolo impactante: a bandeira do Brasil, mas com um grito de denúncia onde deveria estar o lema oficial. No lugar da frase “Ordem e Progresso”, lê-se A Ordem é Exterminar, revelando a política genocida que, ao longo da história, tentou apagar os povos originários em nome do avanço econômico e da ocupação territorial. Seu giro faz esse protesto ecoar pela avenida, expondo uma ferida aberta que o país insiste em ignorar. Ao seu lado, o mestre-sala representa o guerreiro indígena que, mesmo diante de massacres, perseguições e invasões, resiste. Seus movimentos traduzem a luta incessante contra as investidas do Estado, do agronegócio, da mineração ilegal e da omissão governamental. Ele dança pela memória dos que tombaram e pelos que seguem resistindo, recusando-se a serem apagados da história. Juntos, o casal encena uma batalha entre a opressão e a sobrevivência e denuncia os massacres promovidos pelo Estado, a negação de direitos, a destruição das aldeias, o genocídio camuflado em políticas públicas e a perseguição que continua até os dias de hoje. A bandeira do Brasil estampada na saia da Porta Bandeira, com seu grito de denúncia, expõe essa cruel realidade ao mundo. Mas, apesar da dor, há também um recado de resistência. Porque, mesmo diante de séculos de tentativa de extermínio, os povos indígenas continuam vivos, lutando por seus direitos, por suas terras e por sua cultura. Na Sapucaí, o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira não apenas dança, ele transforma cada passo em um protesto, cada giro em um grito de justiça, para que o Brasil nunca mais feche os olhos para a sua própria história.
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