Por Vitória de Moraes
Quando vemos um casal in loco, no Sambodrómo da Marquês de Sapucaí ou em casa com aquelas fantasias esplêndidas, ficamos curiosos para saber qual o significado da fantasia em que os casais de Mestre Sala e Porta Bandeia estão usando. As escolas do Grupo Especial tem de um a três casais, exceto a Beija Flor de Nilópolis que tem quatro, porém, todos os casais que passaram no Grupo Especial vieram muito bem vestidos tanto no seus ensaios técnicos, tanto no desfile oficial.
Veja a seguir o significado das fantasias da quarta escola a desfilar na segunda noite de desfiles do Grupo Especial em 2024:
Estação Primeira de Mangueira
O quadro de casais da Verde e Rosa era formado por três casais, sendo o primeiro casal formado pelo Mestre Sala Matheus Olivério e a Porta Bandeira Cinthya Santos, o segundo casal formado pelo Mestre Sala Renan Oliveira e a Porta Bandeira Debora Almeida e o terceiro casal formado pelo Mestre Sala Maycon Ferreira e a Porta Bandeira Lorenna Brito. Além de ter uma ala de casais da comunidade, oriundo do projeto de Mestre Sala e Porta Bandeira de Matheus Olivério, primeiro Mestre Sala da escola.
Primeiro Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Matheus Olivério e Cyntia Santos
Nome da Fantasia: O Amanhã
Criação do Figurino: Annik Salmon e Guilherme Estevão
Confecção: Não Especificado
Matheus Olivério e Cyntia Santos na Mangueira 2024 | Foto: Nobres Casais |
A dupla que defendeu o Primeiro Pavilhão G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira é formado, pelo segundo ano consecutivo, pela porta-bandeira Cintya Santos, pertencente a uma linhagem tradicional de mulheres negras que também fizeram história ao desempenharem essa mesma função, e por Matheus Olivério, descendente de mangueirenses consagrados, sendo “cria da casa” e formado artisticamente pelo projeto social Mangueira do Amanhã fundado pela homenageada deste enredo, desfilando como mestre sala a oito anos.
Com um bailado tradicional pautado na ancestralidade do samba e respeitando os fundamentos essenciais de defensores de um pavilhão de uma agremiação, o casal traja a indumentária que representa “o Amanhã”, elemento central na construção da narrativa em homenagem a Alcione. Ele que conduz a história de vida da cantora de forma poética, sendo a imagem figurada de sua trajetória, valores, crenças, sonhos, sucessos, experiências musicais, a leitura da cultura popular e da própria atuação e paixão pela Estação Primeira de Mangueira. O casal, é, portanto, a materialização deste Amanhã como personagem da narrativa.
O enredo se estrutura, portanto, pela construção do Amanhã de Alcione e como ela torna-se referência musical, artística e feminina para tantos outros amanhãs, em especial, o de tantas crianças a partir da Mangueira do Amanhã. O sonho de uma escola mirim, visando um futuro para o samba, tornou-se realidade hoje, sendo responsável por tantos novos sambistas que brilham na avenida.
Logo, esse Amanhã carrega consigo os signos de toda uma trajetória de vida, como os elementos de fé, da família, da musicalidade, de seu Maranhão natal e da Mangueira, adornando, assim, o figurino do casal.
Primeiro Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Renan Oliveira e Debora Almeida
Nome da Fantasia: A Folia da Turma do Quinto
Criação do Figurino: Annik Salmon e Guilherme Estevão
Confecção: Não Específicado
Renan Oliveira e Debora Almeida no desfile 2024 | Foto: Nobres Casais |
O figurino do casal faz uma homenagem à “Turma do Quinto”, escola de samba de São Luís do Maranhão que Alcione frequentava junto ao seu pai, que é a primeira instituição desse modelo com a qual teve contato, tornando-se a agremiação maranhense de torcida da cantora.
Terceiro Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Maycon Ferreira e Lorenna Brito
Nome da Fantasia: O Surdo
Criação do Figurino: Annik Salmon e Guilherme Estevão
Confecção: Não específicado
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Maycon Ferreira e Lorenna Brito no desfile 2024 | Foto: Nobres Casais |
O terceiro casal da Estação Primeira de Mangueira é formado por Lorenna Brito e Maycon Ferreira que, pelo segundo ano, cumprem a função de serem um dos casais portadores do pavilhão verde e rosa. Estão inseridos no quarto setor do enredo, que busca relembrar os sucessos da homenageada e, através deles, valorizar aspectos culturais e nacionais, sendo, também, fonte de inspiração para tantas outras mulheres. O figurino do casal tem como inspiração mais um samba interpretado pela homenageada: “O surdo”, que é também um elemento importante dessa agremiação, sendo seu símbolo, e evidenciando o laço crescente da homenageada com a escola e as instituições carnavalescas.
A música reflete sobre a relação do sambista com o instrumento personificado e como ela se constrói a partir da “dor” deste objeto ao ser manuseado na avenida enquanto o desfile ocorre.
A canção é lançada como “música de trabalho” do LP “A voz do samba”, de 1975, que foi um ponto decisivo na carreira de Alcione, já que se tratava de uma última oportunidade de fazer sucesso como contratada da gravadora Polygram, após o lançamento de alguns EPs com baixa vendagem e também devido à crise do petróleo, que abalava o mundo e fazia com que os orçamentos fossem
reduzidos.
O último investimento da gravadora repercute de maneira importante no mundo da música e faz valer a pena o esforço, já que o disco se torna um grande sucesso e transforma para sempre a carreira de Alcione. O figurino traz o surdo como elemento central da indumentária.
Ala de Casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Nome da Fantasia: Florescendo em Mangueira
Criação do Figurino: Annik Salmon e Guilherme Estevão
Confecção: Não específicado
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Ala de Casais da Estação Primeira de Mangueira | Foto: Nobres Casais |
A paixão da homenageada pela Estação Primeira norteou seu destino ao mudar do Maranhão para o Rio de Janeiro, tendo um grande desejo em conhecer e integrar a comunidade da escola. Alcione afirma que chegou em 1974 à Mangueira, quando encontrou com os baluartes da escola e junto a eles, construiu uma relação de amizade, admiração e futuramente, de atuação social.
Seu primeiro desfile na Verde e Rosa ocorreu em 1979, quando um destaque da escola faltou e a cantora foi convidada a assumir a posição já na concentração, tendo assim seu momento de estreia e florescer na agremiação.
A indumentária da Ala de Casais se inspira nos figurinos utilizados pelos casais Mestre Sala e Porta Bandeira da escola nos anos 1970 e presta homenagem a alguns dos inúmeros baluartes de Estação Primeira de Mangueira, que estabeleceram relação próxima com Alcione e que foram fundamentais na sua integração social com a comunidade, através dos pavilhões, como Tia Neuma, Tia Zica, Tia Alice, Hélio Turco e Cartola.
As flores desabrochadas representam o sonho realizado da cantora de conhecer e participar da agremiação.