Por Vitória de Moraes
Quando vemos um casal in loco, no Sambodrómo da Marquês de Sapucaí ou em casa com aquelas fantasias esplêndidas, ficamos curiosos para saber qual o significado da fantasia em que os casais de Mestre Sala e Porta Bandeia estão usando. As escolas do Grupo Especial tem de um a três casais, exceto a Beija Flor de Nilópolis que tem quatro, porém, todos os casais que passaram no Grupo Especial vieram muito bem vestidos tanto no seus ensaios técnicos, tanto no desfile oficial.
Veja a seguir o significado das fantasias da quinta escola a desfilar na segunda noite de desfiles do Grupo Especial em 2024:
Paraíso do Tuiuti
O Paraíso do Tuiuti foi a quinta escola a desfilar no dia 12 de fevereiro, na segunda feira, na segunda noite de Grupo Especial do carnaval de 2024. A escola de São Cristóvão, Zona Central do Rio de Janeiro, vem se firmando no Grupo Especial do Rio de Janeiro desde seu acesso em 2017 e venho com um enredo "Glória ao Almirante Negro", desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcellos e com a pesquisa da sinopse realizada pelo próprio carnavalesco da escola e o enredo era uma homenagem a João Cândido, Primeiro Almirante Negro do Brasil e líder da Revolta da Chibata. O quadro de casais contava com três casais, sendo o primeiro casal formado pelo Mestre Sala Raphael Rodrigues e a Porta Bandeira Dandara Ventapane, o segundo casal formado pelo Mestre Sala Leonardo Thomé e a Porta Bandeira Rebecca Tito e o terceiro casal formado pelo Mestre Sala Matheus Silva e a Porta Bandeira Anna Clara.
Primeiro Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira: Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane
Nome da Fantasia: Calunga grande, o mar.
Criação do Figurino: Jack Vasconcelos
Confecção: Ateliê Aquarela Carioca
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Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane no desfile de 2024 | Foto: Nobres Casais |
O Que Representa:
O mar é um portal onde nasce a vida, lugar onde ondulam memórias, sonhos e também batalhas; escreveu a escritora Flávia Bomfim em seu livro “O adeus do marujo”. Animados pelo espírito da conquista e da aventura, sempre respondemos aos apelos que murmuram das ondas calmas ou gritam das marés mais revoltas. João Cândido tinha o Mar em si, seu habitar mais desejado e que nunca, mesmo com os percalços sofridos, o deixou desamparado. O mar era a imagem que compunha sua visão, no qual se poderia chamar de liberdade; esplêndido com seu
horizonte líquido tão grande que na sua junção mais universal e cósmico como a ponta do céu estrelado. Para o psicoterapeuta Carl Gustav Jung, o mar é o símbolo das águas maternais, fecundas e criadoras, símbolo do inconsciente. Nos sonhos ou nas fantasias, o mar ou toda extensão vasta de água, designa o inconsciente. Enxerga a natureza viva que carrega dentro de si, reconhecendo sua ancestralidade. Fio da memória, fio da identidade. Ancestralmente, sempre que chegarmos perto do mar, devemos ter respeito, saudar aqueles que atuam nele e sua rainha: nossa mãe Iemanjá. Seja à beira da praia ou frente às ondas, é importante pedir licença para entrar.
Segundo Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira: Leonardo Thomé e Rebecca Tito
Nome da Fantasia: A velha companheira dos marujos
Criação do Figurino: Jack Vasconcelos
Confecção: Ateliê Aquarela Carioca
O Que Representa:
“Ô MARTIM PESCADOR QUE VIDA É A SUA?
BEBENDO CACHAÇA E CAINDO NA RUA!
NÃO VÁ BEBER... NÃO VÁ SE EMBRIAGAR!
NÃO VÁ CAIR NA RUA PRA POLÍCIA TE PEGAR!
EU JÁ BEBI... EU JÁ ME EMBRIAGUEI!
EU JÁ CAÍ NA RUA E A POLÍCIA NÃO PEGOU!”
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Leonardo Thomé e Rebecca Tito no desfile de 2024 | Foto: Nobres Casais |
Em 21 de novembro de 1910, na cidade do Rio de Janeiro, voltando de uma folga, o marinheiro Marcelino Rodrigues, tentou embarcar no navio Minas Gerais portando duas garrafas daquela que era a companheira dos marujos que viviam em duras condições: a cachaça. Flagrado, ele tentou resistir e chegou a ferir um cabo.
Pela infração e insubordinação, recebeu uma pena severa de 250 chibatadas. Dez vezes mais do que era o máximo previsto para uma falta como a dele. Isso tudo 22 anos depois da abolição da escravatura em 1888. A cachaça, nunca por acaso, cumpriu um papel importante na trama da revolta que foi inglória para seus realizadores, mas bem-sucedida ao levar à abolição dos castigos corporais na Marinha brasileira.
Terceiro Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira: Matheus Silva e Anna Clara
Nome da Fantasia: O Chamado do Mar
Criação do Figurino: Jack Vasconcelos
Confecção: Ateliê Aquarela Carioca
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Matheus Silva e Anna Clara no desfile de 2024 | Foto: Nobres Casais |
O Que Representa:
O mar é minha família, o mar é meu amigo.
João Cândido e a Baia de Guanabara, eram velhos amigos. Sem outras oportunidades de trabalhos devido a perseguição extraoficial que sofria, voltou seus olhos para o mar. A baia de Guanabara sempre fora sua amiga, pois ali ele sempre renascia. Do mesmo modo como a bela baía, a sexta do mundo, sofrendo com sua forte poluição, ela não está morta.