Por Vitória de Moraes
A magia do carnaval acontece quando vemos um casal de Mestre Sala e Porta Bandeira evoluir sua dança sob nossos olhos.
Quando é visto que um casal de Mestre Sala e Porta Bandeira está bem vestido defendendo seu pavilhão, sendo ele Primeiro, Segundo ou Terceiro Casal, entendemos que de fato, essa magia nos tocou e entrou dentro de nós.
Esta é a quarta publicação da Série de Significados de Fantasias dos Casais de Mestre Sala e Porta Bandeira do Grupo Especial do Rio de Janeiro.
Como dito na série dos casais da Série Ouro, todos os casais que passaram pelo o Grupo Especial vieram muito bem vestidos, o que mostrou o cuidado e o bom grado que os carnavalescos das doze escolas do grupo tiveram com seus casais, mostrando a real importância que duas pessoas tem dentro de uma escola de samba: a importância de empulhar um pavilhão que representa uma nação e guarda histórias importântíssima para um grupo específico.
Veja a seguir o enredo, o quadro de casais e o significado das fantasias dos casais da Primeira Escola á desfilar no Sambódromo da Marquês de Sapucaí na Segunda noite de desfiles do Grupo Especial:
A Unidos da Tijuca veio para o carnaval de 2025 com o enredo “O Santo Menino que o Velho Respeita”, desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira e que foi uma homenagem ao orixá Login Edé, filho de Oxum e Oxossi e celebrando sua história e ancestralidade. A escola do Borel foi a Primeira escola a desfilar do dia 3 de março de 2025.
O quadro de Casais da escola da Tijuca veio composto de dois Casais de Mestre Sala e Porta Bandeira, sendo o primeiro formado por Matheus Miranda e Lucinha Nobre e o Segundo formado por Diego Jenkins e Thainá Teixeira.
Primeiro Casal: Matheus André e Lucinha Nobre
Nome do Figurino do Primeiro Casal: O Elo Entre Orum e Ayê – Um Movimento Ancestral
Criação do Figurino: Edson Pereira
Confecção: Não Especificado
 |
| Matheus e Lucinha durante a apresentação dos Julgadores em 2025 | Foto: Nobres Casais |
Significado do Figurino:
O Primeiro Casal de Mestre Sala e Porta bandeira, Matheus André e Lucinha Nobre, representa a conexão entre o Orum e o Ayê. Aquele é a dimensão invisível das divindades, na qual há uma preexinstência rica, o começo de tudo, onde moram as forças que decidem todos os destinos. Este, a dimensão do mundo visível, é onde Logun-Edé, em forma humana, cumprirá o seu destino. Essas dimensões vigem em Conjunto, para que se possa ter acesso às tramas que envolvem Logun-Edé.
A fantasia é dividida em duas partes. Na porção superior, há cores claras, fazendo referência ao Orum.
Na inferior, há cores terrosas, fazendo referência ao Ayê. Os cauris (búzios), presentes no figurino, são os elementos responsáveis por estabelecer a conexão entre essas duas dimensões.
Outras Informações Julgadas Necessárias
A atuação do casal à frente do cortejo da escola de samba coroa a memória da comunidade e garante sua continuidade. Isso porque há nela a integração entre a mais experiente Porta Bandeira do carnaval carioca, Lucinha Nobre, e um dos mais jovens Mestres Salas da atualidade, Matheus André. É um exemplo do princípio de senioridade que norteia todo o enredo da Unidos da Tijuca.
O giro de Lucinha Nobre e o bailado de Matheus André fazem o axé de Logun-Edé ser visto e ser espraiado pelo mundo inteiro. Isso porque ele está imortalizado no pavilhão da Unidos da Tijuca como pavão e no Amarelo Ouro, que herdou de Oxum e no Azul Pavão, que herdou de seu pai Erinlé.
Segundo Casal: Diego Jenkins e Thainá Teixeira
Nome do Figurino do Segundo Casal: O Encanto das Sinuosas Áspides do Daomé
Criação do Figurino: Edson Pereira
Confecção: Não Especificado
 |
| Diego e Thainá - Então Segundo Casal da Unidos da Tijuca | Foto: Nobres Casais |
Significado do Figurino:
Com a frustrada incursão contra Ilexá, o Império de Oyó foi obrigado a investir na direção contrária, até às terras daomeanas, que compreendem, a Oeste, a atual República do Benim. Daomé, por sua vez, resistiu à dominação de Oyó, em contra-ataque. A revanche contra Oyó levou o Daomé à vitória, fazendo com que o Império de Oyó entrasse em decadência, o que resultou no domínio dos colonizadores europeus sobre estados iorubá, como o de Ilexá. Os ataques impetrados pelo Daomé contra Ilexá acarretaram a fuga dos ijexá em direção a Abeokutá e de lá para o Brasil.
O segundo casal de Mestre Sala e Porta Bandeira representa o vodun Dangbé, a serpente encantada que emana a energia sobrenatural que gerará o encantamento de Logun-Edé, após sucumbir às forças do Reino do Daomé em contra-ataque a Oyó.
Dangbé, dessa forma, gaba-se da conquista sobre Ilexá, ostentando orgulhosamente a bandeira da Unidos da Tijuca, a qual, simbolicamente, representa essa nação, uma vez que o pavão e as cores da agremiação remetem a domínios de Logun-Edé, o líder desse povo.
