Porta Bandeiras Lendárias: Maria Helena

Por Vitória de Moraes

Contar a história de Chiquinho é contar a história de Maria Helena a história dos dois se entrelaçadas na história de vida e do carnaval. Falar de um, consequentemente é falar de outro.

Mas ainda assim, decidi falar dos dois separadamente, que por mais que a história dos dois estejam entrelaçadas, é importante respeitar a individualidade da história de cada um.

Maria Helena no Ensaio Técnico da Imperatriz Leopoldinense em 2024 | Foto: Ricardo Almeida

Maria Helena Rodrigues foi uma mineira de São João Nepomuceno, região que fica localizado na Zona da Mata Mineira. Nascida em 2 de maio de 1945, aos 14 anos teve duas grandes perdas, sua mãe e seu irmão. O que obrigou ir pra outro município morar com tios, não se sabe ao certo mas, ao completar 15 anos, veio para a Capital do Rio de Janeiro, mais precisamente no Morro do 117, localizado no bairro do Rio Comprido, morar com a irmã Elza na casa de uma prima.

Devido a muitos conflitos com a prima, Maria e a irmã foram expulsas da casa. Enquanto Elza voltou para Minas Gerais, Maria Helena permaneceu no Rio de Janeiro e devido a falta de emprego, morou na rua até arrumar emprego de empregada doméstica.

Nesta mesma época, começou a frequentar blocos carnavalescos e escolas de samba e foi aí que se apaixonou pela dança dos Casais de Mestre Sala e Porta Bandeira. Durante uma das visitas a algumas escolas, visitou a Estação Primeira de Mangueira, viu Delegado e Neide dançarem e se encantou.

Em 1962, começou a desfilar como passista no bloco Cometas do Bispo e no mesmo ano conheceu Sebastião Francisco e começaram a namorar. Pouco tempo depois, descobriu que estava Grávida do seu primeiro filho, o pai não quis assumir e assim, sem poder trabalhar, foi obrigada a voltar a morar na rua.

Após dois anos do nascimento de Chiquinho, a avó paterna acolheu o neto e a ex nora em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro e com isso, Maria Helena se restabeleceu como doméstica e assim pode voltar a frequentar os blocos carnavalescos e escolas de samba da cidade.

No ano de 1965, começou a desfilar como Porta Estandarte do bloco carnavalesco chamado ”Quem Quiser Pode Vir“, que desfila no bairro da Pavuna, Zona Norte do Rio de Janeiro. Foi no bloco que conheceu o lendário Mestre Sala Julvêncio Oscar de Oliveira, mais conhecido como Bagdá. Com Bagdá, teve aulas de Porta Bandeira e aprendeu a nossa nobre arte.

Em 1971, fez sua estreia como Porta Bandeira, na escola de samba Unidos da Ponte, escola de São João de Meriti. Lá permaneceu até 1975, sendo vice campeã no carnaval de 1972. Teve uma breve passagem pela Unidos da Tijuca em 1976 e pelo Império da Tijuca em 1977, sua primeira passagem pela Imperatriz Leopoldinense em 1978, como Segunda Porta Bandeira. 

Em 1979, estreou pela União da Ilha do Governador, onde dançou ao lado do Mestre Sala Robertinho e permaneceu na tricolor insulana até 1981. 

Seu talento chamou a atenção da Imperatriz Leopoldinense, quando para o carnaval de 1982, foi convidada a retornar a escola de Ramos pra assumir o Primeiro Pavilhão da escola ao lado do seu Grande Mestre, o Mestre Sala Bagdá.

A parceria com Bagdá durou somente um ano, quando para o carnaval de 1983, Maria Helena estreou com seu parceiro de vida, seu filho Chiquinho, no qual nunca mais deixou de dançar ao lado dele. Foi multicampeã pela escola de Ramos ao lado do filho, no qual dançaram por 23 anos. Foi campeã nos carnavais de 1989, 1994, 1995, 1999, 2000 e 2001.

Maria Helena em seu retorno a Imperatriz Leopoldinense em 1983 | Foto: Jayme Cesário

Teve uma saída dramática da escola de Ramos em 2005, após perder meio ponto no julgamento, foram dispensados, sendo culpabilizados pela perca do título.

Sua última escola no Rio de Janeiro foi a Alegria da Zona Sul, no ano de 2007 ao lado de Maria Helena.

Fora do Rio de Janeiro, o lendário Mestre Sala dançou encerrou a carreira pela escola Unidos da Vila Mamona, escola do município de Corumbá, no estado de Mato Grosso do Sul, na divisa do Brasil com a Bolívia. Foi campeã em 2012 e encerrou a carreira no ano seguinte.

Após sua aposentadoria, passou a dar aulas de Mestre Sala e Porta Bandeira ao lado do filho na Vila Cruzeiro e na Vila Olímpica de Ramos.

Em 2014, retornou a Imperatriz Leopoldinense desfilando como destaque no Abre Alas. Em 2015, desfilou ao lado de Chiquinho novamente no abre alas com a fantasia que dançaram no ano de 2000.

Maria Helena nos deixou em 20 de março de 2022, uma semana após o ensaio técnico da Imperatriz Leopoldinense, vítima de complicações da diabetes. 

A Porta Bandeira deixou um grande legado de resiliência e força para todos nós mulheres sambistas.

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