Porta Bandeira Lendárias: Dodô da Portela

Por Vitória de Moraes

Não só a árvore de Estação Primeira de Mangueira que dão frutos incríveis, o ninho da Águia Altaneira nos deu uma das maiores Porta Bandeiras que passou pelo carnaval e o nome dela é Maria das Dores Alves Rodrigues, mais conhecida como Tia Dodô da Portela.

Dona Dodô na Quadra da Portela em ano desconhecido e autor desconhecido

Tia Dodô nasceu muito longe dos holofotes da capital do Rio de Janeiro, seu nascimento é no dia 3 de Janeiro de 1920, em Barra Mansa, localidade do Vale do Paraíba. Mas com apenas 4 anos de idade, devido a pobreza que vivia naquela época na sua terra natal, sua mãe decidiu que viria com ela para a capital e escolheu o Morro da Providência pra fazer morada.

Chegou na Portela numa forma inusitada, quando a Portela nem se chamava ainda este nome, era Vai Como Pode. Quando trabalhava em uma fábrica de papelão como empacotadora, conheceu Doralice Borges da Silva, mais conhecida como Dora, a então Rainha de Bateria da escola a convidou para ser Porta Bandeira da Azul e Branca de Oswaldo Cruz e Madureira, apresentou a jovem à Paulo Beijamin de Oliveira, o fundador da escola e com apenas 15 anos de idade assumiu o primeiro pavilhão da escola, recebendo o pavilhão das mãos do fundador da escola, lá no carnaval de 1935. 

Dodô era adolescente na época que recebeu o convite para ser Primeira Porta Bandeira e devido a isso, não poderia desfilar, porém, seu Paulo, o fundador da escola, como era um homem importante no universo carnavalesco acabou trocando a idade da menina de 15 anos para os 21 anos e assim Dodô fez a sua estreia na escola que marcaria a sua vida com o enredo “O samba dominando o mundo”.

Permaneceu no posto de Primeira Porta Bandeira até o ano de 1956, conquistando onze títulos com a Águia Altaneira, sendo uma das maiores vencedoras do carnaval como defensora do Primeiro Pavilhão.

Mas pensa que por ai acabou? Não!

Ao ser substituída pela também lendária Vilma Nascimento no Primeiro Posto, Dodô poderia ter seguido a carreira em outra escola, mas escolheu permanecer como Porta Bandeira da Águia até o ano de 1966, alternando entre os postos de segunda e terceira da sua escola de coração.

Jamais teve vaidade, esteve ali todos os momentos da Portela, em altos e baixos, presidiu a tradicional ala de damas. Em 2000, trinta e quatro anos após a sua aposentadoria do cargo que a projetou no carnaval, emocionou a todos no Sambodrómo da Marquês de Sapucaí e em casa ao pisar no solo sagrado novamente vestida como Porta Bandeira ao lado do Mestre Sala Benicio.

Benicio e  Dodô no carnaval de 2000, quando a Porta Bandeira desfilou novamente como PB. Foto: Wigder Frota

Dona dodô emocionou novamente a Sapucaí quando a Portela em 2004 reeditou o enredo Lendas e Mistérios da Amazônia, enredo campeão da Portela em 1970 e foi convidada para desfilar na frente dos ritmistas da Tabajara do Samba (nome dado a bateria da portela) como Madrinha de Bateria. Desfilou ao lado da Rainha Edclea da Neves que, em respeito a Porta Bandeira, atravessou o Sambódromo da Marquês de Sapucaí de vestido, assim como Dona Dodô.

Dona Dodô como Madrinha de Bateria da Portela em 2004 | Foto: Alexandre Cassiano

Jamais dançou por outra escola, como primeira Porta Bandeira ou qualquer outro posto. Jamais dançou com outro Mestre Sala a não ser Manoel Bam-Bam-Bam, seu parceiro por longos vinte e um anos que defendeu o primeiro pavilhão da Portela.

Dodô era a personificação de humildade, doçura, gentileza e carinho, todos que estiveram ali passaram pelas mãos da grande dama da Azul e Branca. Dodô era o símbolo de amor as cores da Portela.

Maria das Dores faleceu 6 de Janeiro de 2015, três dias após completar 95 anos, com caso de desnutrição e desidratação devido a idade avançada. Expressou várias vezes em vida o seu desejo de não ser velada na quadra da Portela, pois aquele lugar era um lugar de extrema alegria durante toda sua vida.

Dona dodô sempre será lembrada pela grande dama que foi e pelos seus 80 anos de vida dedicados a Portela, sendo 31 deles como Porta Bandeira da Maior Campeã do carnaval.