Por Vitória de Moraes
A dança do casal de Mestre Sala e Porta Bandeira é sublime, carregado de ancestralidade e doçura. Todos nós paramos vidrados para vermos um casal dançar, independente de ser o primeiro, segundo ou o terceiro casal, o nosso brilho no olhar vendo um casal continuam o mesmo.
Renan Oliveira e Debora Almeida, segundo casal da Estação Primeira de Mangueira 2024 | Foto: JM Arruda |
O casal são os representantes máximos de uma comunidade inteira, nele toda história daqueles que vieram antes resguardado por duas pessoas.
É uma dança tipicamente Brasileira, nasceu junto com o samba lá nos antigos ranchos. Um bailado se edifica pela sincronização dos movimentos de característicos de cada um.
A Dança do Mestre Sala
Claudinho da Beija Flor de Nilópolis | Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo |
A dança do Mestre Sala se define pelo cortejo e agraciar à Porta Bandeira e a proteção e apresentação do pavilhão. Com valentia, vigor, elegância, majestade, simpatia, agilidade e equilíbrio, o mestre sala dança ao ritmo do samba com uma movimentação de pés parecida a um sapateado (conhecido como riscado) próprio e sem “sambar no pé”, desenvolvendo um bailado próprio através de passos de improviso e obrigatórios como os meneios, meias-voltas, os giros completos, os torneados e as mesuras, numa hora posicionado, numa hora em torno de sua Porta Bandeira. O Mestre Sala deve permanecer sempre ao lado da Porta Bandeira, sem dar as costas à ela e sempre protegendo o pavilhão. Gestos corteses são fundamentais para que o mestre-sala baile com gingado e malandragem, tendo liberdade para criar seus passos, desde que não perca sua elegância e majestade.
A Dança da Porta Bandeira
Thais Romi no Estácio de Sá | Foto: Everton Anchieta |
A dança da Porta Bandeira se caracteriza pela sua majestade e simpatia ao conduzir desfraldado o seu pavilhão sem enrolá-lo ou deixá-lo sob a responsabilidade do Mestre Sala, bem como apresentá-lo sob o cortejo e proteção do mesmo. Com elegância e agilidade ela dança ao ritmo do samba desenvolvendo um bailado característico através de giros completos nos sentidos horário e anti-horário, ora posicionada em seu próprio eixo, ora em deslocamento sob o acompanhamento do seu par ou entorno dele. A Porta Bandeira deve bailar sempre com graciosidade, realizando caminhadas com garbo e elegância, evitando gestos vulgares nem bruscos (não confundindo garra com brutalidade), mantendo sempre a imponência de uma rainha.
A Dança do Casal
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Emanuel Lima e Thainara Matias da Unidos da Ponte em 2024 | Foto: Raphael Vidal |
A dança do casal é caracterizado pela elegância e harmonia da dança em par, com graça, leveza e soberania, sem deixar que um ao outro perca o contato visual, progredindo um bailado de conquista de um para com outro, através de uma sequência coordenada desde a reverência à apresentação do pavilhão e o desenvolvimento da dança em si, evidenciando assim a integração entre ambos, esta conexão constante através do olhar é o que caracteriza o chamado “pas de deux” (passo de dois). Existem características próprios no bailado do casal de Mestre Sala e Porta Bandeira, ele por ser considerado o guardião do pavilhão baila para ela sempre transmitindo proteção, em regra, se ela gira para direita, ele gira para a esquerda, agindo conforme se fossem uma engrenagem, cumprindo sempre o sincronismo e harmonia do casal, evitando o distanciamento importuno que pode acarretar desconexão, que acaba indicando a desproteção do pavilhão.
Há passos utilizados para deslocamentos e para bailar no seu momento de dança, a Porta Bandeira não exclusivamente só gira e o Mestre Sala não executa somente o riscado, os dois executam gestos elegantes para enriquecer o bailado, como por exemplo, as reverências e os valseados. A dança do casal de Mestre Sala e Porta Bandeira é vista como um bailado dentro do samba, pois não há o chamado “samba no pé”. O casal dança de forma cadênciada com levez e excelência, executando passos variados como giros, meias voltas, torneios e até pequenos saltitos, mas que não sejam acrobáticos e nunca parecendo com malabarismos circenses. O casal de mestre-sala e porta-bandeira deve dançar sempre se olhando, com harmonia, sincronismo, alegria, simpatia, majestade, elegância, leveza e gentileza para representar sua agremiação.