Por Vitória de Moraes
Muitos dos Mestres Salas e Porta Bandeiras que vemos dançar atualmente fizeram parte do nosso imaginário como crianças e adolescentes. Passamos a vida inteira assistindo ao vivo ou pela televisão Claudinho, Ronaldinho, Julinho Nascimento, Sidclei Santos, Chiquinho, Selminha, Marcella Alves, Rute Alves, Squel Jorgea e Maria Helena. Muito de nós, como crianças, adolescentes e adultos sambistas e apaixonados pela arte do casal de Mestre Sala e Porta Bandeira passamos a vida inteira vendo essas referências dançarem e muita das vezes me perguntei quem era as pessoas que vieram antes, já que cresci numa época no qual não existia internet. Sempre me questionei Quem foram os casais que fizeram a ponte para que a dança dos casais de Mestre Sala e Porta Bandeira tornasse esse espetáculo que é hoje?
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Mocinha no carnaval de 1976 pela Estação Primeira de Mangueira | Foto: Tantos Carnavais |
A nossa personagem de hoje é mais uma das Porta Bandeiras lendárias que mostra que um local onde nasceu, cresceu e dançou a vida inteira é uma árvore que dá frutos incríveis e mostra também como o amor por essa escola é tão grande ao ponto de aguardar 26 anos para assumir o primeiro posto de porta bandeira na sua escola de coração.
Rivailda do Nascimento Souza, mais conhecida como Mocinha, é mais uma das Porta Bandeiras lendárias do carnaval do Rio de Janeiro que mostra o amor de uma Porta Bandeira a uma comunidade e uma bandeira.
Devido a carência de dados, não se sabe a data de nascimento de Mocinha mas é sabido que a Porta Bandeira nasceu no ano de 1926, no Morro do Télegrafo, na região do Morro de Mangueira. Mocinha aprendeu desde cedo a amar a verde e rosa e a arte dos casais de Mestre Sala e Porta Bandeira. Seu pai, Angenor de Castro, foi um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira e sua tia, Raimunda, foi a primeira Porta Estandarte da história escola, foi a sua tia quem ensinou a dançar.
Hoje o que conhecemos como adolescente, o período de idade dos doze aos dezoito anos de idade (às vezes dezenove anos segundo a OMS), na época de Rivailda, as adolescentes mulheres eram "mocinhas" e foi assim surgiu o apelido que ficou conhecida dentro e fora do carnaval. Desde "Mocinha" participada dos ensaios da Estação Primeira de Mangueira ao lado do seu pai e da sua tia.
Em 1952, aos 26 anos de idade, estreou na função na Estação Primeira como Segunda Porta Bandeira, onde permaneceu até o ano de 1980, quando Neide a então primeira Porta Bandeira faleceu, e assim, após 26 anos, assumiu o posto de Primeira Porta Bandeira da sua escola de samba de coração.
Mocinha dançou do ano de 1981 até o ano de 1988 como Primeira Porta Bandeira da Estação Primeira de Mangueira, tendo parceiros como Arísio, Robertinho, Edinho, Lilico e Delegado. Ganhou três estandartes de ouro na sua carreira, um em 1980, 1981 e 1984, sendo o primeiro ainda quando era segunda Porta Bandeira, chamando a atenção pra si de todos as pessoas do carnaval.
Seus dois principais parceiros de dança durante seus 36 anos como Porta Bandeira foram Delegado e Lilico, Lilico foi seu último parceiro quando ainda era segunda Porta Bandeira e seu último parceiro de carreira.
Mocinha em Algum ano de Mangueira | Foto: Arquivo Nacional |
Devido a problemas de saúde, por consequência de diabetes, entregou o Posto de Porta Bandeira da Estação Primeira de Mangueira após o carnaval de 1988, ficou desfilando por sua escola até o ano de 1991 quando se afastou por definitivo da Verde e Rosa.
Faleceu em 2002, aos 76 anos devido a insuficiência respiratória e renal mas ficou marcada na história da Mangueira, por ser uma Porta Bandeiras com mais tempo em atividade pela mesma escola (36 anos).
Mocinha mostrou através de sua história, o seu amor por uma comunidade e uma bandeira e a paciência por esperar vinte e seis anos para assumir o pavilhão da sua escola de coração.