A Origem da Dança dos Casais de Mestre Sala e Porta Bandeira

Por Vitória de Moraes

A dança do Mestre Sala e da Porta-Bandeira como a conhecemos hoje já existia muito antes do advento das escolas de samba. Os casais eram responsáveis por defender os símbolos do rancho.
Neide e Delegado no desfile de 1961
Foto: Agência Globo

A defesa, então, não é apenas no sentido figurado: os componentes dos ranchos "rivais" tinham o o hábito de roubar as bandeiras uns dos outros. Por isso, vários dos primeiros porta-bandeiras eram homens, ainda que essas figuras tenham sido incorporadas pelas escolas de samba. Um dos primeiros Porta-Bandeiras registrados foi Ubaldo do GRES Portela. Maria Adamastor, por sua vez, foi uma das primeiras Mestres Salas.

Com o tempo, a atuação dos Balizas e Porta-Estandarte progrediram para o giro do porta-bandeira acompanhado do bailado do Mestre Sala. Uma das possibilidades dessas transformações foram influências pela dança pré-nupciais das jovens africanas saudadas por jovens guerreiros. Outra possível origem é que a dança seria encontrada nos festejos populares e nos sepultamentos, onde as tribos seriam identificados por bandeiras coloridas. 

Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro no Carnaval de 2023 | Foto: Vitor Melo/Rio Carnaval
O julgamento do casal de Mestre Sala e Porta Bandeira passou a fazer parte do regulamento a partir do ano de 1938, mas era levado em consideração somente a vestimenta do casal, a partir do carnaval de 1958, foi incluso no julgamento a dança do casal.

O carnaval já era mencionado no início do século XIX nos grupos carnavalescos do Rio de Janeiro, muitos dos quais também conhecidos como grupos de Maltas de capoeira, grupos formados por ex-escravos que usavam violência e brigas de gangues no centro da cidade. O fato de que toda essa violência acabou ficando conhecida como "capoeiragam" e levou à proibição da capoeira como contravenção no Código Penal de 1890.

Esses grupos eram divididos por bairros e cada grupo participava muito de festas populares e até de comícios políticos. No carnaval cada grupo tinha seu escudo, sua bandeira, chamada de pavilhão e nos desfiles era comum grupos rivais roubarem o pavilhão de outro grupo, que seria uma espécie de troféu, acompanhado do melhor capoeirista do grupo, que, além de dançar, demonstrava movimentos de capoeira para quem tentasse se aproximar do pavilhão, muitas vezes vindo também armado com navalhas, facas e adagas, armas brancas utilizadas por esses grupos na época. Com o passar dos anos e com a maior calma nos centros das cidades e o desaparecimento dos grupos malteses, a navalha foi simbolicamente substituída pelo leque, a faca e o punhal pelos lenços, e o samba e os passos ágeis são, sem dúvida, a herança dos capoeiras do fim da escravidão.
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